A nomeação de Joaquim Mota como secretário de José Mota, seu irmão e vice-presidente da Câmara Municipal de Marco de Canaveses, deu azo aos mais diversos comentários e não poderia deixar de me pronunciar sobre o assunto. Conhecemo-nos há muitos anos, já estivemos do mesmo lado da barricada algumas vezes, respeitamo-nos muito, mas isso não limita a minha opinião.
O lugar de secretário, previsto na Lei entre os lugares dos gabinetes de apoio pessoal, deve ser ocupado por alguém da máxima confiança do autarca em funções e constitui um lugar fulcral de apoio ao exercício do seu mandato. Há quem restrinja esse cargo a tarefas próprias de secretariado e apoio administrativo e há outros casos em que se preenche estes lugares com quadros técnicos de apoio aos respectivos pelouros.
Não é fácil, contudo, atrair para a função quadros técnicos experientes e muito qualificados quando se sabe que a remuneração se limita a 60% do vencimento de um vereador. A exposição pública e a precariedade do lugar, aliadas à remuneração, não são atractivas para um quadro superior qualificado e com carreira feita.
José Mota terá procurado com a nomeação de seu irmão “matar dois coelhos com uma cajadada”. Por um lado, escolheu uma pessoa da sua estrita confiança e que lhe garante total solidariedade, ainda por cima conhecedor dos meandros da autarquia e ligado a uma área técnica. Por outro, reforça a componente política ao ir buscar alguém experiente nesses domínios e com intervenção pública na vida associativa local.
Conhecendo José Mota, sei que pesou bem a decisão que tomou e avaliou todos os prós e contras. Sabe que, no fim, isso também constituirá motivo para a avaliação do seu mandato. Se escolheu assim é porque concluiu que os ganhos eram superiores às eventuais perdas, sobretudo de imagem.
Se eu faria a mesma opção? Apesar de nunca poder estar em circunstâncias iguais e de não possuir todos os dados para análise, certamente não tomaria a mesma decisão que José Mota adoptou. Num meio ainda muito marcado pelas nomeações e contratações daqueles que, durante mais de vinte anos, fizeram o que quiseram na autarquia, seria mais avisado adoptar alguma prudência e marcar a diferença (também) nestes domínios.
José Mota tem toda a legitimidade para decidir como decidiu, mas sabe que isso lhe traz um encargo acrescido, em termos de imagem e de repercussão pública, que ganharia em ter evitado.