O leitor António Ferreira enviou-nos o seguinte texto que se publica dada a sua pertinência. Transcreve-se:
A crise em que vivemos não terá um único culpado mas, convenhamos que a rejeição do PEC IV terá dado um significativo contributo. Convêm recordar que inicialmente, como justificação para a rejeição do plano foi dito “… o novo pacote de medidas de austeridade como um “quadro típico de pedido de ajuda externo”. Os mesmos responsáveis acrescentaram que o PEC IV apresentava um conjunto de “novas medidas gravosas e extremamente injustas, …”. Mais tarde, em 28/03/2001, foi afirmado “a razão porque votámos contra esta revisão do PEC, não é porque ele vá longe demais nas medidas que é necessário assegurar para que os objectivos sejam atingidos. É porque ele não vai tão longe quanto devia”.
Na minha opinião os mercados financeiros lêem os jornais e reagem ao que por cá é dito e escrito. Assim, em 24/03/2001, “a Fitch cortou em dois níveis o ‘rating' de Portugal (…) o ‘downgrade' reflecte o aumento do risco de Portugal não conseguir adoptar medidas de consolidação orçamental depois do chumbo do PEC IV, ontem no Parlamento, e da demissão de José Sócrates logo a seguir”.
Uma semana depois é anunciado que, “o juro das Obrigações do Tesouro portuguesas a 10 anos atingiu hoje um novo máximo nos 8,01%, de acordo com dados da Reuters”. No mesmo dia, a S&P baixou a classificação do Santander Totta, CGD, BCP, BES e BPI e ameaça cortar, outra vez, o ‘rating’ de Portugal.
Hoje foi escrito que “o índice que mede a taxa cobrada pelos investidores para comprar obrigações do Tesouro (OT) portuguesas a 5 anos subiu até aos 9,040%. É o valor mais elevado desde pelo menos 1999, ano da adesão ao euro.”
Pelo meio alguém se atreveu a prever, provavelmente consultando as estrelas, que no dia a seguir ao chumbo do PEC IV, os mercados estabilizariam. Os factos demonstraram o contrário.
Recordo que num passado recente, um governo foi demitido depois de aprovado o OE, também agora, porque o PEC não ia tão longe como devia mas tinha a anuência de Bruxelas, deveria ter sido aprovado (sinal claro para o exterior) e, eventualmente, o governo ser sujeito a moção de censura ou de confiança, para tudo clarificar.
Para terminar, “Os portugueses esfregam os olhos e já têm dificuldades em acreditar em qualquer das diferentes versões da história da Carochinha que lhe contam. Caminhamos para um teatro político onde as palavras estão vazias de sentido. O PS transformou-se num partido com paredes de betão para escutar melhor as palavras de ordem de José Sócrates. No PSD, Pedro Passos Coelho saltita de opinião em opinião como se a política fosse um quadro impressionista. A política portuguesa tornou-se inexplicável”. (Fernando Sobral, A grande debandada, in Negócios Online).
Não se pode falar em esperança, exigem-se medidas concretas que, envolvendo todos, permitam reverter esta situação.
Só com esperança não vamos lá, sozinhos também não!