O líder do grupo municipal do PS, João Valdoleiros, proferiu o seguinte discurso nas comemorações do 38º aniversário do 25 de Abril.
Transcreve-se
Comemora-se hoje, mais um aniversário, o 38º da Revolução de Abril de 1974, acontecimento marcante da nossa História contemporânea, realizada por um grupo de valorosos militares, os Capitães de Abril, que devolveu a Portugal e aos Portugueses o estatuto de nação livre, devolvendo-nos a Liberdade e a Democracia, há muito sonegados por um execrável regime ditatorial, que subjugava tudo e todos através do medo imposto pela acção duma tenebrosa polícia política e duma castradora censura, que amordaçava a liberdade de expressão e pensamento.
A Revolução de Abril devolveu Portugal ao seio das nações livres e democráticas, de onde há muito tínhamos sido expulsos, pela prática política do regime vigente de então, proporcionando-nos um abrir de portas e com isso obter a solidariedade e o reconhecimento de nações com longa e forte vivência democrática.
Recordo, principalmente aos mais jovens, que naquela época, não eram respeitados os mais elementares Direitos do Homem, violentando-se constantemente o direito à liberdade de expressão e do pensamento, o direito à liberdade de reunião e de circulação de pessoas e bens e ainda o acesso a direitos tão básicos, por tão essenciais, como o direito à Saúde, à Escolaridade, à Justiça, à Protecção Social e à Cultura.
Direitos, todos eles reconhecidos na Carta das Nações Unidas e na Declaração dos Direitos Universais do Homem, postos em prática em todos os países defensores e respeitadores da Liberdade e da Democracia.
O Portugal de hoje, por comparação com o do antigo regime, é um país que apesar de sofrer, ciclicamente, crises de carácter económico-financeiro, graves pelas suas repercussões na nossa economia e no bem – estar social, crises que não podem dissociar-se de factores de ordem diversa, quer internos, quer externos, apresenta toda uma série de índices, que comparativamente ao passado nos colocam em níveis muito próximos dos países mais desenvolvidos, nomeadamente nas áreas da Cultura, da Saúde e do Social.
Portugal era só o país da OCDE com os piores índices educativos, herança, que nos dias de hoje parece perseguir-nos, se tomarmos em consideração algumas das actuais políticas neste campo.
No campo da Saúde, o Portugal do antigamente, apresentava um dos piores índices de morbilidade e mortalidade natal, peri - natal e infantil, só equiparados ao dos países mais subdesenvolvidos dos continentes africano e sul-americano.
Com a criação dum Serviço Nacional de Saúde abrangente a toda a população, fruto de políticas de prevenção e do trabalho muito meritoso dos seus profissionais, Portugal pode orgulhar-se hoje dos seus índices neste campo, índices que nos colocam ao nível dos países mais desenvolvidos.
No campo da Acção Social praticamente nada existia, que garantisse aos Portugueses, os apoios necessários e indispensáveis na velhice, na doença, na invalidez, no desemprego e à família. Com a mudança do paradigma político português tudo se transformou e foram rapidamente implementadas medidas, para suprir todas estas necessidades de apoio social e combate à pobreza em que vivia uma parte significativa da nossa população.
Perante a actual e grave crise económico-financeira que a Europa, e Portugal em especial atravessa, deverá a sensibilidade dos líderes políticos neste momento de recessão estender-se directamente sobre as famílias, em especial as mais carenciadas de forma a garantir a dignidade humana, atendendo sempre aos valores da igualdade, equidade e justiça, enfatizando a função social do Estado.
Deverão as autarquias municipais e de freguesias reforçar os seus programas de apoio social em planos de actuação, com variados níveis de resposta, consoante a gravidade das situações, se para tal forem chamadas.
Neste campo tem especial relevância a acção das juntas de freguesia, dada a proximidade às populações, ao melhor conhecimento dos problemas e ao mais fácil despiste dos casos de maior carência social.
Os detentores de cargos políticos têm a redobrada obrigação, porque merecedores da confiança dos eleitores de actuar com responsabilidade, com honestidade e com sobriedade. Nunca deverão minimizar os ensejos e as necessidades das suas populações e deverão saber actuar ouvindo atentamente as suas opiniões, valorizando o seu conhecimento prático e a vivência das suas populações, promovendo desse modo, a democracia participativa, incentivando-as ao exercício duma cidadania, que não se limite ao expressar do seu voto nas eleições.
Os valores e os princípios, que o 25 de Abril nos trouxe, Igualdade, Equidade, Paridade e Justiça deverão reger as atitudes e os comportamentos dos políticos, em especial daqueles a quem o Povo delegou o poder de distribuir, afinal o que não é deles, mas sim desse mesmo Povo.
No actual panorama político português, sentem-se pressões para que as vontades e os desejos de uns tantos sejam respeitados e satisfeitos, por vezes com prejuízo dos mais desfavorecidos e dos mais desprotegidos, desvirtuando-se os princípios fundamentais do 25 de Abril e da própria Constituição da República.
O caminho que percorremos até aqui, diz-nos que não basta homenagear a gesta dos capitães de Abril, é preciso também que a façamos acontecer todos os dias nas nossas vidas e não permitir, que as actuais e as vindouras gerações a deixem apagar-se na memória dos tempos.
Diz-nos igualmente, que deveremos estar alerta, pois os inimigos da Liberdade e da Democracia não desarmaram nunca, mostram-se persistentes, mascarando-se tantas vezes de democratas para melhor iludir e confundir o Povo. Desrespeito pelas normas constitucionais, atentados contra os interesses das populações nas áreas da Educação, da Saúde, da Justiça, do Apoio Social, repetem-se todos os dias a coberto duma política, que tudo quer justificar com a grave crise financeira, mas que deixa incólumes os interesses dos mais poderosos.
Tudo isto cria um estado de insatisfação e de alguma agitação social, terreno fértil para que se crie em alguns a sensação de desagrado e desencanto pela Liberdade e Democracia de Abril, tão conveniente aos interesses inconfessáveis de alguns saudosos dum regime ditatorial, que privilegiava os seus fanáticos seguidores em desfavor de todos os outros.
É pois, imperioso, que a actuação de toda a classe política seja de forma a cortar cerce esta desconfiança e descrença sentida actualmente por uma parte significativa dos cidadãos, em especial, pelos mais jovens, que não tendo vivenciado a experiência do regime deposto a 25 de Abril, não poderão ter a percepção, nem a mais correcta informação das traumatizantes experiências que muitos de nós sofremos na própria pele e nos atentados aos mais elementares direitos dos cidadãos.
Porque Abril vive e viverá sempre nos nossos corações, porque a abnegada e generosa luta dos Capitães de Abril pela Liberdade e pela Democracia, deve merecer o inquestionável reconhecimento e agradecimento de toda uma Nação, apelo aos responsáveis políticos portugueses para que tal data nunca deixe de ser festejada, pois tais acontecimentos, ímpares na nossa História, como este, não podem, nem devem ser tratados como uma qualquer festividade.
Viva o 25 de Abril de 1974
Viva o Marco de Canaveses
Viva Portugal