O ataque que os actuais senhores do PS fizeram a Gil Mendes - de que só tomei conhecimento no Domingo passado - não é, apenas, um tiro no pé. É uma ignomínia. Divirjo de Gil Mendes em várias coisas e, como ele próprio poderá confirmar, tive o ensejo de lhe explicar, por diversas vezes que o bravo combate que ele travou contra Avelino Ferreira Torres, ao longo de tantos anos, era uma luta quixotesca. Sempre lhe disse: O homem acabará por caír, mas pela força dos votos - não pela força da Justiça. Ainda assim, não lhe regateei ajuda quando precisou dela. Foi neste pressuposto que, na última campanha eleitoral, fiz finca-pé, enquanto mandatário do presidente Moreira, em não ir ao tribunal pedir a inelegibilidade (frustrada) de Avelino Ferreira Torres. Foi neste pressuposto, também, que, em 2001, expliquei a Gil Mendes que gostaria muito de o ter nas minhas listas, mas que achava que não devia: ele estava o seguir o caminho da polícia; eu queria seguir o caminho da política. Não convinha misturar. Gil Mendes, que sempre me pareceu um homem de convicções e desapegado do poder, aceitou com a maior tranquilidade a minha posição, ainda que, por momentos, possa não ter percebido muito bem o verdadeiro alcance do que eu pretendia. Tenho a certeza de que hoje sabe. Depois de ter estourado muito dinheiro no seu combate judicial contra Ferreira Torres, depois de ter estourado a sua própria saúde, depois de ter ficado indignado com os relativos insucessos da sua luta, acomodou-se. Mas nem assim perdeu o sentido crítico. É sabido que Gil Mendes, no primeiro mandato de Manuel Moreira, não ficou empolgado (ele, que foi quem lançou a ideia da sua candidatura em 2005). Soube conter-se nas críticas. E, quando lhe cheirou a esturro e pressentiu que Avelino poderia voltar, vestiu a camisola e eu vi-o em todos os comícios, de bandeira do PSD na mão nas eleições de 2009. Hoje, é vice-presidente da Concelhia do PSD - da nova, da que rejeita o regresso a Avelino. Foi-lhe feita justiça. O homem que foi prejudicado dentro do PSD pela sua luta contra Torres, não podia ficar, indefinidamente, fora de jogo. Não se aceita, por isso, que o PS dominante venha atacá-lo, ainda por cima por uma situação que não é verdadeira. Entendamo-nos: Gil Mendes lutou mais pela democracia no Marco, do que esses senhores todos juntos. Há, apenas, uma diferença: Mendes aceita as regras do jogo. Os senhores que o atacaram, acham que o jogo lhes pertence, por uma questão de estirpe. Como se imaginará, não irão longe. A estirpe, hoje, não é genética - é uma coisa que se conquista. Contingências da democracia. O feudalismo já não é o que era.