Olhares descomprometidos, mas interessados, sobre o Marco de Canaveses. Pontos de vista muitas vezes discordantes, excepto no que é essencial. E quando o essencial está em causa, é difícil assobiar para o lado.
28
Fev 09
publicado por J.M. Coutinho Ribeiro, às 18:14link do post

No SOL de hoje, José António Saraiva explica por que é que autarcas como Avelino Ferreira Torres, Mesquita Machado, Isaltino Morais, Valentim Loureiro e Fátima Felgueiras, apesar de estarem sob suspeita, ganham eleições. Fica aqui um excerto da crónica:

 

«(...) Para a maior parte do eleitorado, o voto não é determinado por razões morais - sendo antes essencialmente pragmático.

Os eleitores não querem saber se um político é mais ou menos correcto, mais ou menos sério, mais ou menos corrupto.

O que interessa ao eleitorado é se um político funciona: se tem autoridade, capacidade de decisão, condições para manter sua equipa unida, eficácia na acção.

É isto que ao eleitorado sobretudo importa.

A prova está à vista há muitos anos.

Mesquita Machado, o autarca de Braga, tem desde há décadas problemas com a justiça - e no entanto continua a ser confortavelmente reeleito, pela simplicíssima razão de que faz obra.

Com Isaltino Morais, o autarca de Oeiras, passa-se aproximadamente a mesma coisa.

E os exemplos (com nuances e contornos diversos) multiplicam-se pelo país fora: Valentim Loureiro, Fátima Felgueiras, Avelino Ferreira Torres...

Não significa isto, note-se, que todos estes líderes locais sejam desonestos ou tenham culpas no cartório.

Só a Justiça tem poderes para os julgar.

Mas é inegável que, aos olhos dos cidadãos, eles são suspeitos.

Ora isso não inibe as pessoas de votarem neles.

Pode até dizer-se, com alguma dose de maquiavelismo, que o facto de se pensar que um político tem menos escrúpulos, que não olha a meios para tingir os fins, pode funcionar a seu favor.

Porquê?

Porque transmite uma ideia de eficácia.

De capacidade para resolver problemas.

De 'desenrascanço'.

Inversamente, um político sério, honesto, escrupuloso, pode ser visto como um 'atado', um 'choninhas'.

Cumpre rigorosamente a lei, faz tudo como deve ser, não infringe as regras nem salta por cima e ninguém, mas também não resolve nada.

É impoluto mas não sabe ultrapassar dificuldades.

É incorruptível mas não tem capacidade de decisão e de 'desenrascanço'.

Claro que, quando colocamos o problema assim, estamos com os valores de pernas para o ar.

Mas a democracia tem destas coisas.

Como o poder político é muitas vezes frágil, como está sujeito a muitos ataques e pressões, os cidadãos acabam frequentemente por ser atraídos pelos polítcos fortes, sem grandes escrúpulos, que cortam a direito e não se enredam nos meandros da burocracia e das leis.

Acabam por votar em políticos que até poderão receber luvas mas são capazes de superar os obstáculos.

No fundo, é o que dizem os brasileiros no seu modo expressivo de descrever as situações: «Ele rouba mas faz».

E para muita gente é preferível isso a não roubar - mas também não fazer.»


Entendo o prisma de análise de José António Saraiva, mas a sua argumentação é perigosa, porque pode parecer que se "compreende" os comportamentos dos autarcas que refere e de outros que tais. A ética da República obriga, em primeiro lugar, ao cumprimento da Lei. Tudo o resto tem de vir depois, mesmo a satisfação da vontade imediata dos eleitores.
É preciso, sempre, fazer pedagogia junto das pessoas e fazer com que aquilo que é inaceitável noutros países também o seja no nosso. Caso contrário, poderíamos elogiar alguém que vive bem, tem todos os bens materiais de conforto, tem os seus luxos, mas para isso rouba e envolve-se em negócios escuros. Não podemos dizer que essa pessoa é exemplar só porque "vingou" na vida a qualquer preço.
José Carlos Pereira a 28 de Fevereiro de 2009 às 19:17

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