Olhares descomprometidos, mas interessados, sobre o Marco de Canaveses. Pontos de vista muitas vezes discordantes, excepto no que é essencial. E quando o essencial está em causa, é difícil assobiar para o lado.
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Jul 12
publicado por António Santana, às 23:49link do post | comentar

Confesso que nunca fui um admirador de Mário Soares. Porém nos últimos tempos, devo dizer, tenho dado comigo a concordar com muitas das suas posições. Quando ele diz que a crise actual é uma crise politica, estou de acordo. E estou de acordo porque entendo que a globalização potenciou uma evolução de oportunidades financeiras nunca antes visto, no mundo contemporâneo, porque noutras épocas da nossa história já tal tinha acontecido. Estas oportunidades deram visibilidade a marcas globais que muito ganharam e têm a ganhar. Essas marcas globais são detidas por empresas localizadas em países que lideram as economias actuais. E é aqui que creio que existe um factor desequilibrador das economias e das politicas. Os financeiros pensam de forma diferente. Tudo são números e o bem estar das sociedades é coisa que pouco lhes interessa.  Produzir na China, onde o respeito pelas liberdades e garantias da população não existe, ou produzir em qualquer país onde a mão-de-obra infantil é usada como factor diferenciador, pouco importa. Querem é que os países que já atingiram um determinado patamar de desenvolvimento se nivelem por baixo. Querem que abdiquem das conquistas humanas obtidas. O que lhes importa é que os trabalhadores  ganhem pouco, que permitam produções a baixo custo e altas rentabilidades. Na Europa é isto que vinga. Os nossos aliados do norte são detentores das grandes marcas e por isso interessa-lhes manter o mercado aberto e evitar proteccionismos, enquanto os países do sul querem limitações das entradas de produtos baratos originários dos países compradores dos produtos de marca do norte, para assim  voltarem a produzir. É aí que estou de acordo com Mário Soares. É aqui que os políticos devem intervir. Devem exigir que os países que limitam a democracia não concorram economicamente com países democráticos. Países que não respeitam os direitos dos seus cidadãos não devem ter os mesmos direitos dos que o fazem. Países que não respeitam o direito dos jovens estudarem e crescerem e os usam para concorrer economicamente, não devem poder concorrer economicamente com os que protegem os direitos das crianças. Se isto se cumprisse não seria necessário nivelar por baixo muitos países europeus. Os políticos deveriam exigir que se nivelasse por cima e não por baixo. Deviam exigir direitos humanos iguais, em todas as vertentes, para concorrência económica igual. Os políticos não se podem submeter aos interesses unicamente financeiros. O dinheiro deve estar ao serviço da sociedade e não tem que amordaçar as sociedades.


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