Olhares descomprometidos, mas interessados, sobre o Marco de Canaveses. Pontos de vista muitas vezes discordantes, excepto no que é essencial. E quando o essencial está em causa, é difícil assobiar para o lado.
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Fev 09
publicado por J.M. Coutinho Ribeiro, às 23:07link do post | comentar | ver comentários (2)

Em comentário abaixo, Helena Alves afirma que há amizades que sobrevivem aos combates políticos. E esse é um assunto que me é particularmente caro.

É verdade que há amizades que perduram, é verdade que sou amigo de Norberto Soares e sei que ele é meu amigo. Creio, no entanto, que não se trata essencialmente de uma questão geracional - terá mais a ver com as características das pessoas.

Aliás, em 2001, quando aceitei ser candidato à Câmara, um dos primeiros exercícios mentais a que me dediquei foi precisamente esse: iria tentar tudo por tudo para não permitir que o confronto político prejudicasse o relacionamento pessoal com os adversários. Foi, por isso, com a maior serenidade que vi amigos e pessoas da família envolvidos activamente em campanhas adversárias, mesmo na de Avelino Ferreira Torres, que - esse sim - não consegue distinguir uma coisa da outra.

As pessoas andam aí e poderão confirmar que eu fui sempre o mesmo. Quando nos cruzávamos em acções de campanha e mesmo quando via alguns a tentar evitar-me para fugirem a encontros embaraçosos, era eu que me dirigia a eles para os cumprimentar.

Mesmo na Câmara consegui fazer isso com os vereadores do CDS-PP (Ferreira Torres excluído, porque esse tinha dito numa entrevista que a mim nem sequer cumprimentaria, o que me obrigou a responder que iria ser mesmo assim, porque queria manter as mãos limpas).

E mesmo durante o tempo em que estive no combate, quando Norberto Soares me pediu - às vezes mesmo quando não pediu... - opinião sobre a sua carreira política, dei-lhe sempre a que me parecia melhor. Depois de eu ter saído do combate político, Norberto continuou a ter de mim sempre o melhor conselho, de cada vez que mo pediu. Uma ou outra vez em que se sentiu mais abandonado ou mais acossado e precisou da minha ajuda, eu dei-lha. Sem nunca lhe ter pedido nada em troca. Como daria a qualquer outro amigo que não tivesse dúvidas sobre a minha amizade leal. Uma lealdade que passa sempre por dizer aquilo que penso e não aquilo que esperam ouvir de mim.

Confesso que em nenhum momento me arrependi de agir assim. Como também confesso que em nenhum momento me arrependi de afastar de mim pessoas que, sendo da minha área política, revelaram enorme falta de carácter.

Por isso, quando aqui discutimos o que discutimos, isso não tem nada a ver com amizade: tem a ver com diferenças - ainda que substanciais - de ver o mundo e de aferir conceitos. 

 

(Sobre a participação das mulheres na política, falaremos mais tarde)


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