Olhares descomprometidos, mas interessados, sobre o Marco de Canaveses. Pontos de vista muitas vezes discordantes, excepto no que é essencial. E quando o essencial está em causa, é difícil assobiar para o lado.
09
Jul 09
publicado por João Monteiro Lima, às 20:05link do post | comentar | ver comentários (3)

Ao ler um escrito no blogue de Norberto Soares (candidato que situo no campo democárático) a admiração tomou conta de mim.

Embora ache que o texto não tenha sido escrito por NS, as responsabilidades do que foi escrito devem ser atribuídas ao agora candidato independente, dado ser o seu nome o que consta como sendo o autor (note-se que a determinada altura do texto é feita uma referência a NS na 3ª pessoa, sendo que se o autor fosse o próprio NS a referência seria feita na 1ª pessoa do singular).

No texto é dito que o Coutinho Ribeiro (também  tratado por “personagem”) ao projectar uma bipolarização entre Manuel Moreira e Ferreira Torres, estaria a ter uma atitude antidemocrática.

Ora, numa sociedade democrática, há que aceitar as opiniões dos outros mesmo que diferentes das nossas e antidemocrático é a não-aceitação de opiniões contrárias.Diariamente ouvimos que as alternativas de governo do País não passam de uma alternância entre PS e PSD e dessas opiniões não ouvimos a menor crítica.

A opinião de CR é apenas isso, uma opinião, que poderá ser discutível, sendo que é das mais defendidas entre os marcoenses com quem falo diariamente. CR tem opiniões que diferem da minha, e não é isso que me faz desconsiderar nem a opinião nem a pessoa, muito pelo contrário.

Termos como “retrospectiva” e “anteriores experiências” levaram-me a tempos em que alguns candidatos (obviamente excluo António Varela e Artur Melo) estavam demasiado próximos do “poder”, outros eram “o poder” e detinham “grande capacidade económica”, tempos de promessas e obras sem sentido, de dinheiros esbanjados “a torto e a direito”, de milhões gastos num clube que caminhava para o abismo.

Recuei a 2001, quando juntamente com CR, Filipe Baldaia, Nuno Lameiras, Artur Melo e outros marcoenses nos batíamos pela democracia no Marco. Obviamente longe da mesa do Poder instalado.

Não éramos muitos no início, mas aos poucos fomos sendo cada vez mais os que estávamos contra o regime da altura, éramos apontados, muitos ofendidos e caluniados, outros ameaçados e agredidos, mas isso não nos demoveu de lutar para ter um Marco democrático.

E quem era pela democracia e quem aceitava opiniões contrárias, nessa altura?


28
Fev 09
publicado por J.M. Coutinho Ribeiro, às 18:14link do post | comentar | ver comentários (6)

No SOL de hoje, José António Saraiva explica por que é que autarcas como Avelino Ferreira Torres, Mesquita Machado, Isaltino Morais, Valentim Loureiro e Fátima Felgueiras, apesar de estarem sob suspeita, ganham eleições. Fica aqui um excerto da crónica:

 

«(...) Para a maior parte do eleitorado, o voto não é determinado por razões morais - sendo antes essencialmente pragmático.

Os eleitores não querem saber se um político é mais ou menos correcto, mais ou menos sério, mais ou menos corrupto.

O que interessa ao eleitorado é se um político funciona: se tem autoridade, capacidade de decisão, condições para manter sua equipa unida, eficácia na acção.

É isto que ao eleitorado sobretudo importa.

A prova está à vista há muitos anos.

Mesquita Machado, o autarca de Braga, tem desde há décadas problemas com a justiça - e no entanto continua a ser confortavelmente reeleito, pela simplicíssima razão de que faz obra.

Com Isaltino Morais, o autarca de Oeiras, passa-se aproximadamente a mesma coisa.

E os exemplos (com nuances e contornos diversos) multiplicam-se pelo país fora: Valentim Loureiro, Fátima Felgueiras, Avelino Ferreira Torres...

Não significa isto, note-se, que todos estes líderes locais sejam desonestos ou tenham culpas no cartório.

Só a Justiça tem poderes para os julgar.

Mas é inegável que, aos olhos dos cidadãos, eles são suspeitos.

Ora isso não inibe as pessoas de votarem neles.

Pode até dizer-se, com alguma dose de maquiavelismo, que o facto de se pensar que um político tem menos escrúpulos, que não olha a meios para tingir os fins, pode funcionar a seu favor.

Porquê?

Porque transmite uma ideia de eficácia.

De capacidade para resolver problemas.

De 'desenrascanço'.

Inversamente, um político sério, honesto, escrupuloso, pode ser visto como um 'atado', um 'choninhas'.

Cumpre rigorosamente a lei, faz tudo como deve ser, não infringe as regras nem salta por cima e ninguém, mas também não resolve nada.

É impoluto mas não sabe ultrapassar dificuldades.

É incorruptível mas não tem capacidade de decisão e de 'desenrascanço'.

Claro que, quando colocamos o problema assim, estamos com os valores de pernas para o ar.

Mas a democracia tem destas coisas.

Como o poder político é muitas vezes frágil, como está sujeito a muitos ataques e pressões, os cidadãos acabam frequentemente por ser atraídos pelos polítcos fortes, sem grandes escrúpulos, que cortam a direito e não se enredam nos meandros da burocracia e das leis.

Acabam por votar em políticos que até poderão receber luvas mas são capazes de superar os obstáculos.

No fundo, é o que dizem os brasileiros no seu modo expressivo de descrever as situações: «Ele rouba mas faz».

E para muita gente é preferível isso a não roubar - mas também não fazer.»


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