O deputado municipal João Lima interrogou-me neste comentário sobre qual era a justificação que eu encontrava para o facto de o PS ter obtido excelentes resultados em Marco de Canaveses nas europeias de 2004 e nas legislativas de 2005, na casa dos 49%, sob a liderança concelhia de Luís Almeida, e depois ter registado um resultado muito inferior nas eleições autárquicas de 2005 (17,8% para a Câmara e 19,9% para a Assembleia Municipal).
Pois bem, em primeiro lugar não há que escamotear que os principais culpados desse facto foram os candidatos que o PS apresentou, a começar por Luís Almeida e por mim próprio. Em política, por muitos condicionalismos externos que haja, e houve-os, as responsabilidades cabem sempre a quem se apresenta a votos.
Luís Almeida era um forte e natural candidato, experiente politicamente depois de se ter destacado na oposição às maiorias de Ferreira Torres durante muitos anos, com participação na vida associativa e um percurso profissional e empresarial bem sucedido. O PS apresentou uma excelente equipa para a vereação, com credenciais políticas e profissionais bem afirmadas, encetou uma renovação das suas listas, nomeadamente para a Assembleia, com muitos quadros superiores jovens, e investiu na campanha eleitoral como nunca o terá feito, graças à generosidade de Luís Almeida. Mas isso foi insuficiente para convencer os marcoenses.
É verdade que os militantes e as estruturas do partido não se mobilizaram como seria de esperar e, para além de dificultarem uma renovação ainda maior das listas nos lugares elegíveis, não contribuíram como seria necessário para alcançar um melhor resultado. Também aqui há que reconhecer que a responsabilidade maior terá de ser assacada a Luís Almeida, aos dirigentes do PS e aos candidatos porque era a eles que competia assegurar essa mobilização. Houve quadros do PS local que se furtaram a colaborar, outros que se limitaram a presenças “oportunas” na campanha. O partido não esteve unido e pagou esse preço nas urnas. Isto apesar da candidatura ter conseguido atrair eleitores habituais de outros partidos, como se viu na campanha.
Não posso, no entanto, deixar de dizer que também o PS nacional se alheou das eleições no nosso concelho. Para além de Francisco Assis e António José Seguro, e mesmo este só porque foi desviado por José Luís Carneiro a caminho de Baião, não houve mais figuras de primeiro plano disponíveis para vir a Marco de Canaveses. Assisti a algumas “figurinhas” lamentáveis de dirigentes comprometidos que, à última hora, arranjavam as convenientes desculpas. Recordei-me nesses tempos como os políticos de salão fogem quanto podem de enfrentar terrenos difíceis, como era para eles o Marco de Ferreira Torres e sucessores.
O PS teve o resultado que teve por debilidades internas, mas sobretudo pelo contexto externo que se viveu. Quando Luís Almeida lançou a sua candidatura, em Maio de 2005, teve a seu lado muitos militantes do PSD, porque na ocasião se perspectivava uma coligação PSD/CDS. Nesse quadro, haveria por certo muitas pessoas do PSD a apoiar o PS, tal como o inverso também ocorrera em 1997. Tenho para mim que uma eventual coligação PSD/CDS criaria uma bipolarização que favorecia o PS, beneficiando do voto útil e sincero de muitos eleitores de outros partidos que, entre Luís Almeida e Norberto Soares, votariam no primeiro. Quando Manuel Moreira surge na luta, com o estatuto de ex-governador civil e deputado que ainda é sobrevalorizado por muitas pessoas, este consegue juntar os cacos do PSD e arrastar consigo forças empresariais determinantes para uma campanha eleitoral fortíssima. Do outro lado, a máquina que Norberto Soares herdara de Ferreira Torres. Luís Almeida e o PS passaram a ser, em pouco tempo, o elo mais fraco e a vítima do voto útil. Apesar de todo o esforço em fazer passar a (nossa) mensagem, os marcoenses preferiram a mudança tranquila. Acredito que teríamos proporcionado a mudança certa. Mas isso ficará por demonstrar.