Olhares descomprometidos, mas interessados, sobre o Marco de Canaveses. Pontos de vista muitas vezes discordantes, excepto no que é essencial. E quando o essencial está em causa, é difícil assobiar para o lado.
14
Jan 09
publicado por José Carlos Pereira, às 21:30link do post | comentar

A caminhada iniciada em 2001 terminou no início de 2004. Na sessão da Assembleia Municipal em que comuniquei a renúncia ao mandato, não pude deixar de vincar as razões do meu acto.  Nestes tempos que aí vêm, não fica mal lembrar algumas atitudes, até porque alguns dos protagonistas pretendem ir a jogo:

"...Renuncio ao mandato de deputado municipal porque não me revejo de todo no comportamento político dos dirigentes concelhios e distritais do PSD e porque não posso estar a caucionar, com a minha presença no grupo municipal do PSD na Assembleia Municipal, uma estratégia errática, sem rumo, sem valores e sem propostas concretas para os reais problemas dos marcoenses(...)

A recente renúncia ao mandato de vereador por parte do Dr. Coutinho Ribeiro, que exerceu o seu mandato sem o apoio e a colaboração dos dirigentes locais do PSD, veio colocar um ponto final no trajecto iniciado há cerca de três anos. Não é possível continuar a mover uma oposição forte e decidida nos órgãos autárquicos quando, simultaneamente, os dirigentes do PSD e do CDS-PP admitem encetar conversações para promover uma candidatura conjunta às próximas eleições autárquicas. A escassos meses do final do presente mandato, não quero de modo algum ficar vinculado à estratégia que o PSD venha a seguir ou aos candidatos que venha a designar…”

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publicado por José Carlos Pereira, às 13:00link do post | comentar | ver comentários (4)

Na primeira sessão da Assembleia Municipal após as eleições de 2001, intervim para fazer um balanço do acto eleitoral. Não podia, nessa ocasião, calar a denúncia do comportamento de Avelino Ferreira Torres e de alguns seus apaniguados a que me referi em post anterior:

“…O reparo negativo vai para os episódios ocorridos na noite das eleições. Muito embora já tenha decorrido todo este tempo, as atitudes protagonizadas pelo candidato Avelino Ferreira Torres junto à sede da candidatura do Dr. Coutinho Ribeiro, acompanhado por familiares e apoiantes, não podem deixar de ser aqui recordadas. Nessa noite, assisti a algo que me deixou perfeitamente incrédulo. Julguei que já tinha visto tudo o que era possível ver no que se refere a falta de respeito pelos adversários e a ausência das mais elementares normas de convivência democrática. Mas não. O estranho bailado do candidato Avelino Ferreira Torres à frente de alguns camiões, os quais cumpriam escrupulosamente as suas ordens e buzinavam o mais alto que podiam, assim como os gestos que dirigiu em direcção a todos aqueles que estavam na sede de candidatura foram insultuosos não só para quem aí se encontrava mas também para todas as pessoas que, em Portugal, acreditam na democracia.

Tenho para mim que mais importante que saber perder é saber ganhar. Respeitando quem perde e quem tem ideias diferentes das nossas, estamos a valorizar as nossas próprias vitórias. Quero acreditar, aliás, que muitas pessoas que hoje se encontram aqui em representação do CDS-PP – pessoas que eu conheço e respeito há muitos anos – sentir-se-iam envergonhadas se tivessem assistido a essas cenas pouco edificantes.

Porque estava lá nessa noite e porque me senti pessoalmente ofendido, continuo a aguardar por uma retractação pública do Senhor Avelino Ferreira Torres…”

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13
Jan 09
publicado por José Carlos Pereira, às 22:00link do post | comentar

Recuperando as memórias de um passado recente, chegámos ao momento marcante das eleições autárquicas de 2001. Avelino Ferreira Torres tinha perdido um vereador em 1997, não retirando qualquer vantagem por ter “amarfanhado” o PSD, e em 2001 muita gente acreditava que era possível infligir a primeira derrota a Avelino, retirando-lhe a maioria absoluta. O PS, com Nuno Lameiras, procurava consolidar o resultado anterior. O PSD voltava a jogo com Coutinho Ribeiro, o candidato de Luís Filipe Menezes, então presidente da distrital, que nunca contou com o apoio e a solidariedade da concelhia local.

Apesar das contrariedades, Coutinho Ribeiro conseguiu mobilizar um grupo pequeno, é certo, mas muito motivado e empenhado em dar um grito de revolta. Quem a viveu sabe que essa foi a candidatura de uma geração, com marcas de irreverência, espontaneidade e muita generosidade. Os meios eram escassos, mas a vontade movia montanhas. Os adversários estavam fora, mas os inimigos andavam por perto.Tenho orgulho em ter participado nessa aventura, mesmo se isso me obrigou a voltar a um meio – o PSD – de que me havia distanciado. Aos amigos, às vezes, não se consegue dizer não e posso dizer que me identifiquei por inteiro com o espírito dessa candidatura. Do princípio até ao fim. Desde que decidi participar até ao dia em que renunciei ao mandato que exercia na Assembleia Municipal.

Não será demais dizer que o poder tremeu nessas eleições. Porventura, não pelos resultados em perspectiva, mas antes pela ousadia e pela coragem evidenciadas. O que se passou na noite das eleições, à porta da sede de campanha de Coutinho Ribeiro, foi bem a prova disso.

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09
Jan 09
publicado por José Carlos Pereira, às 21:30link do post | comentar | ver comentários (1)

Veio ontem a público que o Tribunal de Contas reprovou uma conta de gerência da autarquia, sem que saiba ainda qual o exercício em causa. Nada que me admire. Atendendo ao período de contas em observação pelo Tribunal, o chumbo pode muito bem ter recaído sobre a conta de gerência de 2002, que teve de ser votada duas vezes (!) pelo executivo, em Abril e em Maio. Tudo porque o Tribunal de Contas exigiu logo na altura que fossem entregues os novos modelos do POCAL, muito mais detalhados e rigorosos, e que estavam em falta na primeira versão das contas. Rocambolesco, no mínimo.

A Assembleia Municipal de 30 de Abril de 2003 aprovou essas contas com 37 votos favoráveis à maioria, 17 votos contra e uma abstenção. Nessa Assembleia, o executivo esteve representado por Lindorfo Costa e Norberto Soares, da maioria CDS-PP, enquanto a oposição apenas contou com a presença de Coutinho Ribeiro, do PSD.

Entre os deputados municipais, usaram da palavra na discussão das contas Ricardo Araújo, Luís Almeida e eu próprio. Nessa altura, não eram tantos os que ousavam intervir nas Assembleias. As respostas (e as evasivas) ficavam a cargo do então vice-presidente, Lindorfo Costa, o “homem da massa”, como se lhe referia Avelino Ferreira Torres.

Para memória futura, trago aqui a transcrição da acta dessa reunião, designadamente a minha intervenção nesse ponto. Aí se refere que comecei “por dizer que, depois do cenário traçado pelos oradores anteriores, o semblante dos deputados estava carregado, e não era razão para menos. Dirigindo-se ao senhor vice-presidente da Câmara, pôs em causa a desculpa apresentada de falta de capacidade dos técnicos da autarquia em elaborar o relatório e conta de gerência, segundo as novas normas do POCAL, pois esta nem é a atitude habitual do executivo, que sempre defende os trabalhadores da Câmara.

Analisando alguns pontos do documento, criticou o aumento do apoio dado ao Futebol Clube do Marco, que, em dois mil e dois, chegou aos quatro por cento da despesa corrente.

Considerou ser muito importante saber o valor real da dívida e o que isso irá prejudicar a situação futura da Câmara, pelo que, se o executivo pudesse explicar claramente esse valor e as suas implicações políticas, talvez a oposição pudesse ajudar a combater as dificuldades que se vão encontrar pela frente.

Constatando que a junta de freguesia de Ariz foi a única a não receber subsídio, apelou para que todas fossem tratadas de igual forma, não se criando, assim, ideias de perseguição.

Depois de apontar mais algumas falhas deste relatório e conta de gerência, nomeadamente no que diz respeito à previsão de venda de terrenos, que fica sempre aquém do anunciado, terminou a sua intervenção, afirmando que este mais parece um orçamento de brincadeira, pelo que não resta outra saída aos deputados (…) senão votar contra este documento.”


08
Jan 09
publicado por José Carlos Pereira, às 18:45link do post | comentar

Num  post anterior disse que a minha inclinação para a esquerda democrática e social-democrata, na velha tradição nórdica, em meados dos anos 80, tinha motivações que procuraria explicar oportunamente.

Pois bem, recupero um texto do blogue Incursões onde falava sobre isso, em Outubro de 2005, nas vésperas das presidenciais e na ressaca das últimas autárquicas. Dizia então que “a minha viagem para terrenos mais à esquerda já havia começado e foi influenciada por vários factores – os meios universitários que frequentava, as leituras, a realidade urbana que reencontrei depois de alguns anos a viver num meio mais fechado e conservador, a intensa campanha eleitoral das presidenciais de 1985/86, uma maior preocupação com as questões sociais e a distribuição da riqueza num período de graves dificuldades económicas. É certo, porém, que as características impressivas da liderança de Cavaco contribuíram muito para me empurrar mais para a esquerda nesses meados dos anos oitenta.”

Aqui ficam as minhas (resumidas) razões para ter chegado mais à esquerda aos vinte e um anos, fazendo um trajecto contrário ao da maioria, que normalmente era de esquerda aos dezoito e de direita aos trinta anos.

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07
Jan 09
publicado por José Carlos Pereira, às 08:45link do post | comentar | ver comentários (2)

Já por aqui me fui referindo à actividade política que desenvolvi na primeira metade dos anos 80. Contudo, entre a saída da liderança da JSD/Marco, logo no início de 84, e a entrega do cartão de militante, em meados de 1987, ainda há alguns factos curiosos que vale a pena assinalar.

Em 1985, já desligado de quaisquer funções dirigentes, participei activamente na quixotesca candidatura de Aniceto Costa à presidência da Câmara, um homem que merecia ser recordado pelos democratas marcoenses. Digo quixotesca porque os meios, tanto humanos como materiais, eram tão escassos que, pese embora toda a energia dispendida, o resultado final só poderia ser aquele. Os convites que fazíamos para as listas, alguns até os fiz sozinho, eram vistos quase como se proviessem de autênticos extra-terrestres. Pois se Ferreira Torres ia ganhar por muitos! PSD e PS consolidaram aí o desastre de 1983 e franquearam as portas ao domínio avassalador de Ferreira Torres, com o atrapalhado PRD a dar uma pequena ajuda. Aniceto Costa e Babo Ribeiro acabariam por renunciar aos respectivos mandatos, sendo substituídos por Luís Monteiro da Silva e Rui Brandão.

Em 1986, as candidaturas de Mário Soares e de Freitas do Amaral partiram o país a meio. Ainda hoje recordo a emoção que se viveu no Marco com a visita de Soares, acompanhado por um pequeno grupo de pessoas desde os Encambalados até ao comício na esplanada do jardim, voltado para a Praça Crispiniano da Fonseca. Ser o speaker do comício valeu-me uma afonia, recompensada por um valente abraço de Mário Soares. Daí até ao Porto, onde julgo que encerrava a campanha da primeira volta, foi uma festa emocionada. Os pequenos que se revelavam grandes! É claro que a ameaça de processo disciplinar por parte da concelhia da JSD, com carta registada e data marcada, nem sequer mereceu resposta.

Em 1987, terminou a minha carreira de dirigente estudantil, agora já na universidade, e também a de militante partidário. Aquele já não era o meu partido e, mesmo estando à vista de todos que Cavaco ganharia as eleições com maioria, apresentei a demissão durante a campanha eleitoral e o meu voto foi para Constâncio e o PS.

Desde então guinei à esquerda, motivado por razões que procurarei enunciar em próxima oportunidade, e nos últimos vinte anos tenho votado invariavelmente no PS. Sampaio, Guterres e Sócrates tiveram o meu voto nas legislativas. Soares, Sampaio e de novo Soares (apesar de não ter aceite ser o seu mandatário concelhio) tiveram-no nas presidenciais. Nas autárquicas, a música foi diferente – PS e PSD obrigaram-me a votar em branco em 1989 e em 1993. Em 1997 acreditei na candidatura protagonizada por Ismael Cardoso – parece que ainda estou a ver Artur Melo e Castro, deslumbrado, a entrar pela cafetaria Trenó a cantar “Três vereadores, vitória!” – mas cedo chegou a decepção. Nesse ano, até tinha recebido um convite improvável para iniciar a vida autárquica. Não, não foi do CDS, nem do PSD (acobertado nas listas do CDS), nem do PS.

Sobre 2001, falaremos adiante.

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06
Jan 09
publicado por José Carlos Pereira, às 12:50link do post | comentar | ver comentários (2)

O vereador José Mota (PSD) escreveu-nos para também recordar algumas memórias e para mostrar que continua empenhado e preocupado com a sua, e nossa, terra:

 

Caro Zé Carlos,
Ao saber desta presença na blogosfera, "aventura" para a qual não me reconheço qualidades, vim espreitar e confesso que senti um arrepio quando li as tuas palavras sobre os passados anos 83. Já passou um quarto de século e é isso que nos faz velhos!
Lembro bem essa aventura eleitoral de 82 e 83. Pela minha parte, aqueles primeiros anos da década de 80 foram duma intensidade extrema.
Embora já andasse pelas fileiras da JSD há mais tempo, foi também após a morte de Sá Carneiro que, de forma mais assumida, me comprometi com estas coisas da política. O facto, inicialmente triste, de ter ficado um ano à espera para entrar na Universidade, permitiu-me participar de forma mais activa na politica local nesse período de 82-83. Mas, por altura da campanha eleitoral de 83, já estava eu de partida para uma temporada na "capital do reino", por onde me deixei andar quase uma década.
Depois voltei ao Marco e, uns anos mais tarde, voltamos a abraçar um projecto comum.
Agora, pelas funções que exerço, entendo não dever "comentar" (como eu entendo a posição resguardada que pretendes manter sobre o actual momento que se vive no PS Marco) a vida politica do Marco.
Fica aqui apenas esta mensagem, que também é para o Cristiano (outro daquele período tão especial).
Independentemente dos percursos mais ou menos próximos, mais ou menos coincidentes, sou dos que acredita que há valores pelos quais vale a pena lutar e em torno dos quais vale a pena juntar vontades.
Acho que a nossa terra merece que a pensemos, que a protejamos e que a promovamos. Quanto mais me apercebo das afrontas que lhe fazem, principalmente dos que, estando de fora, a usam a seu belo prazer, numa base de bem descartável, mais vontade sinto de continuar.
Um grande abraço
Zé António
 
P.S. como não me entendo com estas "modernices" dos blogues e dos comentários, envio a mensagem por correio electrónico

 


03
Jan 09
publicado por José Carlos Pereira, às 12:19link do post | comentar | ver comentários (3)

Quando se tem um passado mais ou menos longo de intervenção política, abundam as memórias e os episódios curiosos. Alguns desses episódios serão recordados por aqui.

Começo por recuar a 1983, à campanha eleitoral para as eleições autárquicas intercalares. Se bem se recordam, o CDS venceu as eleições sem maioria em Dezembro de 1982 e, alguns meses depois, os vereadores do PSD e do PS renunciaram aos respectivos mandatos, provocando a queda do executivo. PSD e PS decidem apresentar-se às eleições coligados, em lista encabeçada por Alberto Araújo e Manuel Ribeiro. Nessa época, o bloco central governava o país e o PS/Marco tinha Fontes Orvalho como deputado na Assembleia da República e Babo Ribeiro na presidência da Assembleia Municipal. A campanha eleitoral contou, pois, com inúmeras figuras dos dois partidos – o comício de encerramento no cineteatro Alameda teve a presença dos então ministros Eurico de Melo e Almeida Santos.

Por essa altura, eu era dirigente da JSD – filiei-me nesta organização na semana seguinte ao falecimento de Sá Carneiro em finais de 1980 e demiti-me durante a campanha eleitoral que deu a primeira maioria absoluta a Cavaco Silva em meados de 1987 – e subscrevi o acordo de coligação PSD/PS na qualidade de membro da concelhia do PSD, em representação da JSD. Estive, por isso, muito envolvido nessa campanha eleitoral.

O episódio que agora recordo passou-se numa sessão de esclarecimento (adoro esta designação!) na Casa do Povo de Soalhães. Na mesa que conduzia os trabalhos, procurando defender e explicar as razões de PSD e PS, estava eu próprio e o então deputado Manuel Moreira, entre outros de que não guardo memória. Na plateia, interpelando a mesa e defendendo as posições da candidatura do CDS, designadamente que não havia legitimidade política para ter feito cair o executivo de Ferreira Torres, estava o meu primo e amigo Norberto Soares. Lembro-me bem da acesa troca de opiniões, que nunca mais recordei com os próprios envolvidos.

O resultado final é conhecido. Ferreira Torres cilindrou a coligação PSD/PS e iniciou um ciclo de vinte e dois anos de maioria absoluta. Havia necessidade de retirar ilações por parte dos partidos e dos seus responsáveis, numas eleições acompanhadas de perto pelos principais órgãos de comunicação do país. Modestamente, fiz o que entendi como correcto: apresentei a demissão de presidente da concelhia da JSD.


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